O fado é uma das maiores heranças culturais do povo luso. Mas onde, como e quando surgiu?
Embarcamos hoje á descoberta da riquíssima história do estilo musical mais caracteristicamente português.
O contexto da sua origem é rural e popular: Lisboa oitocentista, durante momentos de confraternização e de modo recreativo.
As suas primeiras notas acontecem em ambientes de emergência social, com temas do quotidiano e em tom de improviso, em cenários maioritariamente frequentados por prostitutas, marinheiros e em muitos casos, prisioneiros que entoavam as suas canções desde as suas celas em voz áspera e rouca… Como já seria de esperar, devido ao “tipo de pessoas” que o cantava, o fado era, nesta altura, desprezado pela alta sociedade portuguesa.
Perdendo aos poucos o estatuto de marginal quando o Teatro Revista decide criar um quadro musical a si dedicado, cantado por atrizes de renome e faditas famosos que o levaram além.
No século XX, já envergava uma importância cultural considerável, com novos recintos para espetáculos que elevavam o fado no sentido comercial. Consequentemente, surgem as companhias de fadistas profissionais como “Troupe Guitarra de Portugal”, da qual fazia parte, entre outros, Ercília Costa (1902-1985).
O hábito de ouvir fados em estabelecimentos específicos tornar-se-ia uma prática cultural estabelecida, especialmente em áreas com forte tradição fadista, como o Bairro Alto em Lisboa, a partir da década de 1930 que é quando acontece a consagração do estilo na sétima arte, quando Leitão de Barros realiza o primeiro filme sonoro português. Este crescimento, leva á perda de uma das maiores e mais marcantes características do fado: o improviso.
Durante os anos 50, o regime de Salazar começou a capitalizar o renome internacional de Amália Rodrigues para fortalecer sua própria imagem. Amália é, até hoje, um ícone nacional, conhecida e reconhecida como a “única Diva portuguesa”. Atualmente, o fado é praticamente irreconhecível sem a sua fiel companheira: a guitarra portuguesa, mas já teve outras formas como o fado dançado e falado. Armando Augusto Freire, guitarrista conhecido pela incrível história que escreveu sobre as seis cordas da guitarra, é um dos maiores nomes do segmento.
Após o 25 de Abril, as liberdades são outras para todos os portugueses e as artes tornam-se mais importantes ainda na celebração de dita liberdade, com o surgimento de artistas como o
fadista Carlos do Carmo (vencedor do único Grammy português) ou Paulo de Carvalho e António Variações.
Nos dias que correm, o fado é conhecido pelo seu tom melancólico e de saudade, com vários nomes reconhecidos nos quatro cantos do mundo, Mariza encabeça a lista com concertos nalgumas das maiores salas de espetáculos e Carminho a fazer um percurso cada vez mais notável, agora até em Hollywood.